terça-feira, 2 de agosto de 2011

Zeca Pagodinho


No final dos anos 70 e início dos anos 80, Zeca estava cada vez mais estabelecido como um versador de respeito, mas também escrevia seus sambinhas. Em parceria com o flautista e também partideiro Cláudio Camunguelo, "Amargura" foi sua primeira música gravada. Entrou no repertório do segundo disco do grupo Fundo de Quintal, originado essencialmente pelo pessoal do Bloco Cacique de Ramos. Essa música chamou atenção do grandalhão Arlindo que veio conversar com o jovem compositor numa roda de samba em Quintino. O papo rendeu novos encontros, que se tornaram mais freqüentes e logo os dois estavam inseparáveis. Poderiam até ter recebido o apelido de Dupla Dinâmica, mas entraram na brincadeira da turma do samba e, pela enorme diferença de portes físicos, viraram O Gordo e o Magro. Além de Sérvula e Dorina, Zeca também cultivava a amizade de Paulão Sete Cordas (na época, apenas Paulo Roberto), Monarco, Mauro Diniz(filho de Monarco), Almir Guineto, Bira Presidente, Dudu Nobre(filho dos também amigos Anita e João Nobre. Dudu era pequeno e tinha que liberar o quarto para um combalido Zeca despencar de vez em quando), Beto Sem Braço e Arlindo Cruz, com quem formou uma dupla cujo vigor atravessa as décadas. Beth Carvalho já havia sido madrinha do Fundo de Quintal, mas ficou particularmente encantada com "Camarão Que Dorme A Onda Leva", composição de Arlindo Cruz, Beto Sem Braço e Zeca. Dos três, o filho do Seu Jessé foi convidado para gravar essa música com toda a pompa e circunstância que isso envolve. Até microfone de ouro entrou na jogada. Ele, que nunca tinha cantado em um microfone, na primeira viagem teve que encarar logo um de ouro. "Camarão..." foi um sucesso e ganhou até clipe no Fantástico. Depois de muitas gravações, parcerias e shows Zeca Pagodinho estava definitivamente no coração do povo. Mesmo receoso, encarava palcos de todos os tamanhos e para todos os públicos. Já foi atração do Directv Music Hall, do Claro Hall, do Canecão e do Teatro Municipal com casa cheia e exigência de shows extras. Depois que ganhou o Grammy, foi convencido a levar sua música para fora do Brasil. Logo o menino de Irajá estava cantando na Europa, África e América do Norte com a mesma naturalidade com que cantava nas rodas de samba do Cacique de Ramos. Seu carisma levava as emissoras a disputarem sua presença a tapa. Com o jeitão desconfiado de sempre, Zeca freqüentou o sofá da Hebe, o palco do Faustão, Raul Gil e Gugu, a poltrona do Jô Soares e até a cadeira do irreverente punk João Gordo, da modernosa MTV. Aliás, foi na MTV que foi escrito o capítulo mais elegante da sua história. Com repertório escolhido a dedo e orquestra digna de um show de Luciano Pavarotti, o portelense colocou o samba em um ponto nunca antes alcançado: atração principal de um celebrado álbum acústico. "Acústico MTV Zeca Pagodinho" foi lançado em 2003 em CD e DVD tornando-se um sucesso instantâneo. A razão? Talvez porque no palco estava o homem que nunca perdeu o elo com seu povo, suas origens e sua essência.




Mariana Kairalla - nº 19

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